It occurs to me I never said I’m sorry. I am.
For the lawyers, for the press, for the mess, for the fear…
É difícil superar “o” momento, aquele que eleva uma série ao mais alto patamar. É difícil, por isso, superar o arrepiante discurso do Presidente no final da temporada anterior.
No rescaldo das revelações de “Two Cathedrals“, Josiah Bartlet (Martin Sheen) e o seu staff vão ser confrontados com as consequências de um erro, descobrindo que, por vezes, é dentro de casa que as repercussões mais depressa se fazem sentir. Por entre investigações, processos civis, juramentos, debates e ameaças, desenvolvem-se novas relações, retomam-se antigos vícios, tomam-se decisões que põem em causa todos os códigos existentes.
Quando se esperava que a terceira temporada de “The West Wing“ mergulhasse rapidamente nestes dilemas, a vida real sobrepõe-se ao mundo ficcional. Ao longo dos episódios, foi-se jogando com uma linha entre realidade e ficção, uma linha que nunca chega a ser cruzada – até ao 11 de Setembro. Depois do que terá sido o mais chocante evento na vida recente dos EUA, seria quase impossível ignorar as discussões que trouxe a lume numa série que trata sobre o próprio governo envolvido, mas também seria difícil alterar o rumo pré-definido da história. A solução encontrada, na forma do especial “Isaac and Ishmael” não foi, certamente, a ideal, um pouco porque a rapidez com que foi escrita não permitiu desenvolver tema tão complexo, mas mostrou, pelo menos, que existe uma ligação entre os dois mundos, real e imaginário, que não é facilmente quebrada.
Talvez por isso seja importante o regresso à cronologia regular da série em “Manchester“, com o retomar os temas que irão dominar a temporada – a campanha de reeleição, a investigação do Senado, os conflitos pessoais das personagens. Embora explore regularmente as suas histórias pessoais, The West Wing nunca chega a dissociar as vidas pessoais das personagens da acção principal, mostrando frequentemente como podem contribuir para a história actual ou tema que está a ser explorado. Nesta temporada são bons exemplos disso a relação de Josh (Bradley Whitford) com Amy Gardner (Mary-Louise Parker) e o potencial problema que representa o namorado de Donna (Janel Moloney), ambos com implicações políticas, de maior ou menor gravidade. Mas embora estas relações tenham tido algum destaque a longo da temporada, são outras, mais antigas, directamente ligadas ao Presidente que passam para primeiro plano.
Tal como na segunda temporada, são novamente Abbey e Toby que lideram a oposição. Para Abbey (Stockard Channing), a mentira poderá ter consequências pessoais graves, mas é a decisão tomada sem o seu apoio que cria os maiores conflitos com o Presidente. Já para Toby (Richard Schiff), a falta de determinação é o grande problema, não hesitando em confrontar o seu superior em “The Two Bartlets“, obrigando a história a desviar-se por alguns episódios do seu rumo. Por muito interessante que seja conhecer um pouco mais da história pessoal do Presidente, por muito bom que seja ver Adam Arkin a retomar o seu papel em “Night Five“, é a actuação de Schiff e as duras palavras que profere que merecem todo o destaque e que poderão ser mais um dos factores a influenciar a difícil decisão final tomada em “Posse Comitatus“.
Se os 22 episódios se pautam pelas muitas recriminações, por um constante sentimento de culpa por parte de todas as personagens, ninguém o expressa melhor do que Leo (John Spencer). A braços com a investigação do Senado, é no retrospectivo “Bartlet for America” que descobrimos a importância que teve na história desta equipa, e que conseguimos, pela primeira, vislumbrar um pouco da sua verdadeira essência. Alternando entre passado e presente, o rejúbilo pelo desenvolvimento favorável do julgamento é mitigado pela luz que caminha para as sombras à medida que o dia avança no presente, à medida que a recaída no vício no passado se tornava inevitável.
Mais calma do que a anterior, menos espectacular do que a anterior, a terceira temporada de The West Wing não tem um momento especial que a marque – tem, pelo contrário, vários momentos, de várias personagens, que em conjunto a distinguem. Dos vícios de Leo às recriminações de Toby e Abbey, das escolhas de Bartlet à raiva (mal) contida de C.J. (Allison Janey) em “The Women of Qumar“. Mesmo não conseguido alcançar a sua predecessora, ao som de “Hallelujah” de Jeff Buckley fecha-se mais uma etapa de uma série única.