Dollhouse S2

“Com um universo já estabelecido e personagens mais ou menos desenvolvidas, a segunda temporada de “Dollhouse” tem tudo para melhorar. Esperemos apenas que o consiga fazer.”

Haverá algo pior do que sermos obrigados a engolir as nossas próprias palavras? A ver as nossas apostas e expectativas saírem furadas? A ver bons actores e tramas interessantes, diferentes de tudo o que por aí anda e, por isso mesmo, promissoras, serem completamente desperdiçadas? Certamente que não. E é por isso que mesmo volvido algum (muito) tempo sobre o final de “Dollhouse“, não há como deixar de ficar irritado com a constatação de que a aposta feita no final da primeira temporada estava completamente errada.

Não há margem para dúvidas: “Dollhouse” é o pior trabalho de Joss Whedon até agora. Conhecido pelas suas tramas interessantes, por uma escrita inteligente e mordaz e pelas personagens cativantes que representam, mesmo se dentro do género fantasia e ficção científica, um pouco de todos nós, é quase inacreditável ver a trapalhada que nos apresentou nesta série, episódio atrás de episódio, temporada atrás de temporada. Miraculosamente renovada depois dos fracos resultados junto das audiências americanas, e depois de um final de temporada muito excitante, que abria as portas a um ano mais regular, o que assistimos foi, desde logo, a um regresso ao que de pior tinha sido feito, aos casos da semana desinteressantes, que nem mesmo uma panóplia de convidados especiais conseguiam tornar melhores, como se viu em “Vows“, “Instinct” e “Belle Chose“. Quem começa mal dificilmente se endireita mas, surpreendentemente, a partir de “Belonging” tudo muda. Com uma história cativante de início ao fim, com grandes ligações ao que tínhamos visto na primeira temporada em “Needs” e interpretações irrepreensíveis de Sierra (Dichen Lachmann), Victor (Enver Gjokaj) e, surpreendentemente, de Topher (Fran Kranz), que teve na segunda temporada uma volta de 180º, tornando-se numa das mais fascinantes personagens, abria-se assim caminho a uma trama mais madura, mais concreta, mais em linha com aquilo que desta série esperávamos.

Se as inúmeras tramas secundárias provaram, na primeira temporada, ser o ponto fraco da série, foi quando se apostou no mistério principal, em desenvolver a mitologia que desde o primeiro momento nos tinha sido prometida, que “Dollhouse” se revelou. E o mesmo aconteceu nesta segunda temporada. A existência de outras casas espalhadas um pouco por todo o mundo e os jogos de poder que Adelle (Olivia Williams) tão bem dominava, a tentativa de revelação ao mundo da organização com a cumplicidade de November (Miracle Laurie) e, claro, a prometida viagem até ao sótão e aos seus mundos paralelos em “The Attic” e “Getting Closer“, expondo o plano de domínio do mundo que resultou no excelente “Epitaph One” da primeira temporada, deixaram alguma expectativa para o desfecho desta série. Infelizmente, a melhoria foi sol de pouca dura, pois toda esta história acabou por ter uma resolução sem pés nem cabeça que nem mesmo os regressos de Alpha (Alan Tudyk) e Whisky (Amy Acker) conseguiram salvar. A aposta em destacar sempre as mais fracas personagens, Echo (Eliza Dushku) e Ballard (Tahmoh Penikett), num desmascarar ridículo do vilão principal que deixa qualquer um com vontade de atirar com algo à cabeça de Whedon e num destruir de tudo o que o final da primeira temporada tinha conseguido com a sequela “Epitaph Two” transforma “Dollhouse” numa das séries mais frustrantes dos últimos anos, e confirma que quem tem telhados de vidro – mesmo aquele que, para muitos, não consegue fazer nada mau – não devia andar a atirar pedras. Afinal, para estragar uma série, nem sequer é preciso ir para o Japão feudal…

Dollhouse S1

dollhouse
“If you have everything, you want something else.

Professora, jogador de futebol, pintora, actor, cientista, escritora. Sonhos de infância todos nós temos, desejos de um dia sermos algo mais, algo de diferente, algo de melhor.

Esta é a história de uma rapariga comum. Caroline (Eliza Dushku) era uma rapariga como as outras: tinha sonhos, desejos, esperanças. Mas no dia em que o mundo se vira de pernas para o ar, Caroline junta-se à misteriosa organização Dollhouse e desaparece da face da terra. Com as memórias apagadas, Caroline transforma-se em Echo, uma boneca com mentalidade de criança pronta a ser programada com uma personalidade e habilidades à escolha do freguês recheado que possa alugar o seu tempo.

O que é esta Casa das Bonecas? Como é que Caroline chegou à Casa? Quem são as pessoas por detrás desta organização de alcance global e quais os seus planos para o futuro? Estas, e muitas outras perguntas, permanecem em aberto no final da primeira temporada de “Dollhouse”.

Com um nome tão sonante como o de Joss Whedon por detrás desta história, é natural que as expectativas fossem altas. “Buffy the Vampire Slayer”, “Angel” e “Firefly” tornaram-se séries de culto graças a uma conjugação de histórias interessantes, diálogos inteligentes e personagens apaixonantes. Com tão grande currículo, esperava-se muito desta nova aposta. Qual foi então o problema?

Em primeiro lugar a história. Deixando por momentos de lado a ideia assustadora que a trama principal consigo arrasta, de glorificação da escravidão sexual, os doze episódios da primeira temporada revelam-se pouco uniformes a nível da trama principal. A imposição de episódios soltos, de caso da semana, não ajudou ao estabelecimento de uma trama coerente, criando meros “fillers” numa história ainda não estabelecida, como é o caso de “Stage Fright” ou “Haunted”.

Se a história não convence, as personagens muito menos. Echo é uma tábua rasa, sem qualquer tipo de personalidade ou de presença, destacando-se apenas nas cenas de luta, onde a sua intérprete parece sentir-se em casa; Adelle (Olivia Williams), administradora da casa, é mal explorada, e nem mesmo a surpresa do seu apego a um dos seus sujeitos convence; Boyd (Harry Lennix), por muito que considere a situação dos bonecos uma exploração, permanece em silêncio; quanto a Topher (Fran Kranz), homem da informática, é uma presença irritante sem qualquer interesse. E quanto a Paul Ballard (Tahmoh Penikett), o opositor deste regime, o agente do FBI que tenta desvendar o mistério da Dollhouse? A ausência de qualquer justificação para a sua obsessão pela Casa e por Caroline, bem como o surpreendente volta face em “Omega”, quando parece esquecer tudo aquilo por que passou às mãos desta organização, fazem com que qualquer simpatia pela personagem seja difícil.

Com personagens principais pouco memoráveis, a série acaba por valer-se dos secundários. Sierra (Dichen Lachman) e Mellie (Miracle Laurie) podem nem ser as melhores actrizes da série, mas convencem no papel de bonecas, e o episódio verdadeiramente dedicado aos bonecos, “Needs”, revela-se um dos melhores de toda a temporada, dando a Victor (Enver Gjokaj) a oportunidade de se revelar.

Se a fraqueza da série se evidencia nos episódios solto, é quando se regressa à história principal que se consegue vislumbrar a história potencialmente interessante por detrás desta série. “Man On The Street” coloca-nos no bom caminho e “Spy In The House Of Love” revela-se um episódio recheado de tensão, mas é com a chegada de Alpha (Alan Tudyk) que a série ganha um novo fôlego. “Briar Rose” tem acção, mistério, tensão e revelações chocantes, provando que, quando se aliam personagens inteligentes a bons actores, a história dá um salto qualitativo.

Com um universo já estabelecido e personagens mais ou menos desenvolvidas, a segunda temporada de “Dollhouse” tem tudo para melhorar. Esperemos apenas que o consiga fazer.