Babylon 5 S3

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The enemy is fear. The enemy is ignorance. The enemy is the one who tells you that you must hate that which is different. Because, in the end, that hate will turn on you. And that same hate will destroy you.

Não é fácil continuar num ritmo ascendente, especialmente nas séries de televisão, onde tantos outros critérios passam à frente da qualidade da história. Mas se a segunda temporada de Babylon 5 constituiu, sem sombra de dúvidas, uma melhoria face à sua antecessora, dando-lhe uma muito necessária coerência, é na terceira temporada que a série verdadeiramente se revela. A meio caminho da narrativa imaginada por J. M. Straczynski, aumenta o ritmo nas várias histórias secundárias, que começam a convergir para a acção principal, revelando a sua verdadeira importância. A meio caminho desta narrativa, confirma-se finalmente o valor de Babylon 5.

2260. Um ano de conflitos. Um ano de destruição. Um ano de morte. O ponto sem retorno. Com a crescente influência da Night Watch e a repressão política do governo central, a vida na estação torna-se cada vez mais difícil. Por entre alianças que se formam e que se quebram, amigos e inimigos que mudam de campo, chega-se ao ponto de rotura e à inevitável guerra. Mas no rescaldo do conflito, em vez do descanso merecido, começa a preparar-se o próximo, o fatídico confronto contra as Sombras que se revelam da maneira mais inesperada. Com consequências graves para todos os envolvidos, este é o ano de todas as mudanças. O ano em que Babylon 5 se supera.

Uma das recompensas de visionar de seguida as séries é conseguir identificar mais facilmente estruturas narrativas que poderiam, de outra forma, passar despercebidas, e nas temporadas centrais de Babylon 5 isso torna-se evidente. Os primeiros episódios da temporada são, claramente, de preparação da história: a chegada de Marcus Cole (Jason Carter) e a criação do Conselho de Guerra em Matters of Honor, as primeiras missões da White Star e a crescente desconfiança de um governo corrupto e repressivo em Messages from Earth contribuem, de forma significativa, para o crescendo da acção, que tem o seu expoente no explosivo Severed Dreams, onde finalmente se toma uma posição clara face à situação na Terra. Mas porque a temporada não termina aqui, vão sendo fornecidas ao longo dos primeiros episódios pequenas pistas que permitem identificar outros conflitos, outros inimigos que irão retornar em força no final dos 22 episódios, em terras de Z’ha’dum. À guerra em casa segue-se a luta contra as Sombras, que traz consigo aliados inesperados e que não deixa esquecer as consequências das escolhas: más, na figura de Londo Mollari (Peter Jurasik) e na decadência do povo Centauri, ou fatídicas, como se comprova em Interludes and Examinations. Mesmo quando somos distraídos por conclusões de histórias anteriores, como no caso da dose dupla de War Without End, nunca se deixa de planear o futuro, por mais longínquo que pareça neste ponto, transformando-se numa verdadeira fonte de informações para os eventos futuros.

Se o crescendo da história é essencial para a construção da história, não o deixa de ser também a evolução das personagens. Na estação ninguém está imune aos eventos que se desenrolam à nossa frente, e é no elenco central que se espelha mais agudamente esta evolução. A montanha russa de emoções porque passam Sheridan (Bruxe Boxleitner), confrontado com o seu Destino, Ivanova (Claudia Christian) forçada a admitir os seus sentimentos, e Dr. Franklin (Richard Biggs), obrigado a confessar a sua dependência, tornam estas personagem mais humanas, e transformam Cerimonies of Light em Dark, que poderia ter sido apenas mais interlúdio, num importante estudo de personalidades. E porque as restantes raças acabam por padecer dos mesmos dilemas, também Delenn (Mira Furlan) vai ser obrigada a questionar tudo em que acredita para poder escolher o seu destino, enquanto que G’Kar (Andreas Katsulas) prossegue no seu caminho para o Conhecimento.

Com boas interpretações, uma acção intrigante, brilhantes monólogos e constantes alusões à vida contemporânea, não é possível deixar de considerar Babylon 5 uma excelente série, um marco na forma como se deve estruturar uma história. E, no entanto, não é possível deixar de constatar que a série está, de facto, datada. Mais do que os efeitos especiais, que uma década depois já não são inovadores, é o facto de as consequências dos dilemas, das guerras, dos genocídios não terem um maior impacto na acção; o facto de as muitas mortes que resultam dos episódios fulcrais não se repercutirem de forma mais dura na história central. O facto de o criador estar, hoje em dia, prestes a ser ultrapassado pelas suas criações.

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