“We were happy here.”
Nada há melhor do que um bom mistério. Daqueles que nos permitem mergulhar numa história, apegar-nos às personagens que a habitam, sofrer com elas todos os altos e baixos da investigação e, no final, acompanhá-las na grande revelação. Desde as primeiras aventuras com os Cinco ao romance com o bigode de um belga baixinho, os grandes mistérios sempre fizeram parte desta casa. E em 2013, com “Broadchurch”, regressaram em força.
Na cidade costeira de Broadchurch, o amanhecer traz consigo uma descoberta terrível. O corpo do pequeno Danny Latimer (Oskar McNamara) surge na praia, sem vida, e despoleta uma investigação policial que vai mudar, irremediavelmente, a vida de todos na cidade. Soa familiar? Talvez. Afinal, “Broadchurch” não apresenta uma história inédita. Mas isso não tira mérito à série. Muito pelo contrário, pois prova que, por vezes, não é o mistério em si que é o essencial da história, mas sim a forma como se aborda o tema da morte, da perda, da desconfiança. Na pequena comunidade de Broadchurch, a morte de Danny é mais do que uma investigação – é a oportunidade que temos para descobrir mais sobre aqueles que nos rodeiam, sobre as suas vidas e os seus passados, sobre os seus segredos e os seus erros. É a oportunidade de ver o que acontece quando uma mãe (Jodie Whitaker) tem de lidar com o que deveria ser uma alegre surpresa no pior momento da sua vida. É a oportunidade de ver um pai (Andrew Buchan) a perder aquilo que mais ama por causa de uma decisão errada. É a oportunidade de ver que os erros do passado acabam sempre por regressar no presente, com consequências devastadoras, tanto para uns (David Bradley), como para outros (Pauline Quirke). É saber que, por mais que tentemos fugir dos nossos erros, eles irão sempre alcançar-nos. E é perceber que, afinal, não sabemos mesmo nada sobre os nossos vizinhos.
“Broadchurch” é tudo isto. É todas estas histórias, todos estes dramas, todos estes segredos. E é também todas as suas personagens. Mas, no fundo no fundo, é a história de Ellie Miller (Olivia Colman) e de Alec Hardy (David Tennant). É a história de dois detectives tão diferentes, que encontram em Broadchurch um ponto em comum – a dor, e o desespero. É a história de como uma mulher carinhosa e alegre descobre o lado negro de todos aqueles que a rodeiam, e de como um homem desiludido e amargo começa, lentamente, a confiar novamente em alguém. E é também a certeza de que, por vezes, não temos as respostas correctas, de que nunca iremos saber porquê.
Se aliarmos uma excelente história e personagens eximiamente construídas a uma maravilhosa cinematografia, proporcionada pela belíssima costa jurássica de Dorset, que serviu de pano de fundo para a fictícia cidade, e a uma banda sonora impressionante do islandês Ólafur Arnalds, que permanece connosco mesmo depois de terminados os episódios, percebe-se porque “Broadchurch” é uma série a não perder antes da estreia do inevitável (e totalmente desnecessário) remake americano.