Kings S1

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Le roi est mort. Vive le roi.

Todas os anos surge aquela série diferente, curiosa, que é reconhecida para crítica mas pouco vista pelo público, aquela série que tão rapidamente cai nas nossas graças quanto é tirada do ecrã. E se isto se tornou quase uma certeza, é impossível deixar de ficar revoltado com o cancelamento de “Kings”.

Num mundo paralelo de reis, rainhas, intrigas e invejas, a clássica história bíblica de David e Golias é transportada para os dias modernos naquela que será uma das mais fascinantes adaptações dos últimos tempos. Com grandes interpretações, diálogos contundentes e uma cinematografia maravilhosa, mais adequada ao cinema do que ao que vemos regularmente no pequeno ecrã, os treze episódios a que tivemos direito antes do cancelamento podem não ser suficientes para nos mostrar todas as histórias destas personagens, mas conseguiram certamente convencer todos os que lhe deram uma hipótese.

Era uma vez um valoroso rapaz de seu nome David (Christopher Egan), soldado das forças do reino de Gilboa que, num acto de coragem, destrói um tanque inimigo e vê a sua vida mudar de um dia para o outro. De soldado a herói do reino, a vida de David e de toda a corte nunca mais será a mesma. Numa capital governada a mão-de-ferro pelo rei Silas Benjamin (Ian McShane), um auto-proclamado soberano agraciado por Deus, os jogos de bastidores e as influências de parceiros misteriosos nunca deixam de se fazer sentir, e o perigo da guerra contra a vizinha Gath é apenas superada pelas intrigas no seio familiar, representadas por William Cross (Dylan Baker), cunhado do rei e poderoso industrial. Renegado pelo deus em que acredita, e com a passagem do testemunho em perigo devido à vida boémia e aos segredos do príncipe Jack (Sebastian Stan) e à paixão proibida de Michelle (Allison Miller), é sobre os ombros de David que poderá vir a cair o futuro deste reino. Mas porque o poder, quando conquistado, não é fácil de largar, Silas tudo irá fazer para manter a sua posição… mesmo que isso implique renegar a sua antiga fé e o seu maior confidente, o reverendo Samuels (Eamonn Walker).

Se as histórias religiosas não são prato forte da maioria dos espectadores, o mundo criado por Michael Green é tão rico e tão paralelo ao nosso, que os longos discursos shakespearianos e a ocasional pregação acabam por se esbater, e mesmo as interpretações mais fracas do elenco mais jovem são suplantadas pelo brilhantismo de Ian McShane, de Susanna Thompson como a implacável rainha Rose e de Brian Cox como Vesper Abedon, o confidente e prisioneiro de Silas, antigo rei de Carmel.

Recheada de simbolismos e de metáforas que nos deixam a salivar por mais, é na recta final que esta história se revela verdadeiramente em todo o esplendor. E mesmo que o final em “New King” nos deixe um sabor amargo, pela não continuação da história, a página virada em “Chapter One” deixa-nos adivinhar o percurso destas personagens que acabamos por respeitar.