Skins S1-2

“Look around, Sidney. This is a shitty little town. You’ve got to improvise”

Adolescência: a fase do desenvolvimento da vida humana que faz a transição entre a infância e a vida adulta é também uma das mais complicadas. Quando a razão parece desaparecer, os dramas se exacerbam e a rebelião é presença contínua, nada mais há a fazer do que esperar que a neura passe. Todos nós passámos por ela, todos os outros a irão viver. Talvez aí se encontre então a explicação para a proliferação, desde sempre, de séries “teen”. Mas provando que nem todas as séries “teen” são iguais, “Skins” é mais uma bela surpresa que chega de terras da sua majestade.

Na cidade inglesa de Bristol, um grupo de amigos vê a vida passar entre as aulas, os trabalhos de casa, as festas, a música, as drogas, o álcool e muito, muito sexo. Adolescentes como muitos outros, mas também especiais, individuais: Tony (Nicholas Hoult), belo, sempre em forma, arrogante, o líder a quem a vida corre sempre de feição, Michelle (April Pearson), a namorada sempre disponível para ajudar, que apenas quer ver retribuída a sua afeição e Sid (Mike Bailey), o melhor amigo de Tony que quer perder a virgindade, seja com quem for, mas de preferência com Michelle. A eles juntam-se Jal (Larissa Wilson), música em formação e a mais comedida do grupo e Chris (Joe Dempsie), o mais extrovertido, sempre metido em apuros com uma passa em cada mão, Maxxie (Mitch Hewer), que sonha em dançar e não tem medo de gritar aos quatro ventos a sua homossexualidade e o melhor amigo Anwar (Dev Patel), dividido entre as festas e os deveres impostos pela cultura a que pertence, a enigmática Effy (Kaya Scodelario), irmã mais nova de Tony e a inesquecível Cassie (Hannah Murray), com uma personalidade tão exuberante quanto a gaveta de comida que esconde debaixo da cama. Adolescentes que representam, cada um deles, um estereótipo mas que, com o passar dos episódios, se vão transformando em algo mais.

Alternando entre a comédia negra e o drama, entre os exageros e os momentos mais introspectivos, “Skins” não é uma série de fácil consumo, mesmo para públicos mais abertos como o europeu. A comédia de situação nem sempre funciona, as ideias mais rebuscadas, presentes em histórias tão sem graça como a viagem à Rússia de “Maxxie and Anwar” ou a obsessão de “Sketch” tornam-se, por vezes, cansativas, e o sentimento de catástrofe que impera, a partir de certo ponto, na segunda temporada, de que tudo o que de pior poderia acontecer, acontece, torna-se fatigante e, também, pouco credível. Mas quando pomos de lado estes defeitos, quando deixamos passar algumas situações mais ridículas ou alguns dramas amorosos mais repetidos, encontramos verdadeiras pérolas que nos fazem acreditar que sim, mesmo dentro das histórias de adolescentes, é possível fazer algo de muito bom. Se “Tony“, na primeira temporada, nos deixa algo de pé atrás ao apresentar o mau caminho que esta série poderia ter escolhido, já “Cassie“, o episódio que o segue, prova que as primeiras impressões estão erradas e dá-nos a conhecer a personagem mais cativante de toda a série, aquela cujo destino mais acaba por nos marcar. Da mesma forma, se “Tony“, na segunda temporada, nos deixa de boca aberta pelos piores motivos, já “Jal” e a sua continuação “Cassie” são um verdadeiro murro no estômago, deixando quem seguiu a vida deste grupo de amigos sem saber como reagir.

Com uma primeira temporada mais auto-contida, e uma segunda menos conseguida mas que nos traz, ainda assim, alguns dos melhores momentos desta primeira geração, como é o caso de “Maxxie and Tony” e os episódios referidos em cima, “Skins” é, sem dúvida uma série a que vale a pena dar uma oportunidade, sem preconceitos ou recriminações.