Don’t call me T-Brain! I’m a mother fucking pimp!
Admitir derrota é difícil. Admitir derrota quando acreditamos em algo – mesmo com todos os problemas que desde início identificamos – é pior ainda. Mas por vezes, torna-se necessário engolir as nossas próprias palavras e constatar que algo não consegue mesmo atingir o nível que esperávamos. E se, nos últimos tempos, várias foram as séries que desiludiram, “Hung” é capaz de ter sido a que o fez da pior maneira.
A história de Ray Drecker (Thomas Jane), um homem que tudo perdeu e que apenas reteve um bem com que ganhar a vida – o seu pénis -, resolvendo assim transformar-se num prostituto masculino, pode até ter conquistado algumas pessoas na primeira temporada, devido não só ao humor negro da história mas especialmente devido à grande interpretação do protagonista, que conseguia fazer transparecer, nos momentos mais sérios, toda a tristeza e desespero pela situação em que se encontrava. Infelizmente, quem teve ainda determinação de dar, à segunda temporada, uma nova oportunidade, acaba por sair desiludido.
As qualidades que a série teve, de início, mantiveram-se: as boas interpretações da personagem principal e as mordazes tiradas da “vilã” Lenore (Rebecca Creskoff), a segunda proxeneta de Ray que procura dominar o mercado com a sua inteligência e que tantos dramas causa a Tanya (Jane Adams). Melhorou também a sua prestação Jessica (Anne Heche) que, mesmo não sendo a personagem mais interessante, conseguiu ter alguns bons momentos nos primeiros episódios mas que, infelizmente, com o avançar da temporada, foi caindo cada vez mais fundo numa crise conjugal que a levou a trair o marido actual com o ex-marido e que acabou por sugar todo e qualquer interesse que a história pudesse ter tido. Por último, Hank (Gregg Henry), o colega professor de Ray que conhecemos na primeira temporada e que pouco destaque tinha tido, acabou por proporcionar a melhor história secundária da temporada ao inadvertidamente, cair no jogo de Lenore e Tanya e transformando-se, sem saber, num prostituto a soldo, com todos os dramas que isso implica quando a verdade, finalmente, vem ao de cima.
Mas se todos estes foram pontos positivos, seguindo um pouco o que no ano anterior nos tinha sido apresentado, nada consegue compensar o desespero de ver a série, episódio atrás de episódio, a não avançar, a bater nas mesmas teclas (Ray com dificuldades em satisfazer as clientes, Lenore vs. Tanya, rewind, be kind), a cair num círculo vicioso onde nada acontece, nada se modifica, nada se transforma. Dez episódios depois, e tirando algumas mudanças a nível amoroso na vida de Ray, o que aconteceu verdadeiramente? Para que serviu a ligação à vizinha ricaça, para que serviu todo o dinheiro que ganhou, para que serviram os conselhos do proxeneta amigo de Tanya, para que serviram os maquiavélicos planos de Lenore? Para nada… Ray continua sem dinheiro, Tanya continua a ser uma das – perdão, A – personagem mais exasperante actualmente na televisão, os gémeos continuam a ser um mistério e a série – que tanto prometia – hesita em dar o salto, em escolher um caminho e segui-lo, a evoluir.
De uma série com alguns defeitos mas com grande potencial, “Hung” transformou-se numa série que nem sequer dá prazer ver. E isso, deste lado, é o último prego no caixão. Sem glória, as aventuras de Ray Drecker e companhia ficam-se por aqui.